Por mais vinte e um que este século seja, todo dia vivemos algum episódio digno das masmorras medievais. Porém, graças à virtualização da vida, percebemos que não estamos indignadas sozinhas. E é nas angústias que florescem mudanças, ou pelo menos foi assim com o espetáculo Primavera das Mulheres, desabrochado há pouco mais de dois meses e já tão impactante e transformador.
Tudo começou com um pesadelo sonhado por Laura, compartilhado em um grupo do Facebook para mães trocarem figurinhas sobre maternidade como um ato político. Ela compartilhou o enredo sonhado com umas amigas, assim, na zoeira, como quem não quer nada, e todo esse descompromisso foi abraçado por mais de sessenta colegas das artes, também participantes desse grupo, todas dispostas a tornar o antídoto desse pesadelo uma realidade. O espetáculo foi concebido depois de um mês de bate-papos entre as interessadas, que enxergam na arte cantada, exibida e encenada a melhor solução para um diálogo sadio sobre questões urgentes que ferem a cidadania de milhões de mulheres brasileiras.
Créditos da foto Bel Junqueira.
Cada apresentação do espetáculo é única por causa de seu formato mutante e aberto: artistas vão e vêm dependendo da necessidade que têm de expor alguma questão que as acomete – ou melhor, que nos acomete: o ato de verbalizar nos faz perceber que, sim, o problema de uma diz respeito e fere a todas. O show é, portanto, um espaço de protesto e cultivo de sororidade, que apazigua temores e faz girar a roda que precisa ser movimentada para essa sociedade caminhar para uma realidade melhor.
Mora no Rio e ficou com vontade de conhecer essas mulheres maravilhosas, talentosas e, acima de tudo, reais? Fica de olho na fanpage delas porque ainda tem show para acontecer!
Beatlemaníaca que gosta de sambar diferente com o Molejão, gosta de carnaval e de futebol mais que o recomendado pela OMS. Carioca da gema e cidadã do mundo, tradutora, intérprete, historiadora, mochileira, nômade digital, rabiscadora compulsiva em moleskines (não necessariamente nessa ordem) mas, antes de tudo, uma contadora de histórias, sobre si e sobre os outros. Escreve sobre o cotidiano da tradução em: http://pronoiatradutoria.com/