Nascida e criada no bairro de Benfica, no Rio de Janeiro, a bailarina Ingrid Silva hoje brilha nos palcos de Nova Iorque. Filha de uma empregada doméstica e um funcionário aposentado da FAB, seu primeiro contato com o ballet foi o projeto Dançando Para Não Dançar na favela da Mangueira. Hoje ela participa de diversos projetos que incentivam o empoderamento feminino e a formação de bailarinas negras nos EUA. Infelizmente artistas não-brancas e periféricas no ballet ainda são minoria, por isso exemplos como a Ingrid são tão importantes.
Você já era uma grande inspiração para garotas que sonham ocupar espaços onde há pouca representatividade negra/latina/periférica. Mas você começou a atuar mais diretamente no empoderamento dessas garotas com o Brown Girls Do Ballet. Pode nos falar um pouco sobre o projeto e a sua participação nele?
O Brown Girls Do Ballet é uma organização que ajuda meninas negras aqui nos Estados Unidos a terem uma bolsa de estudos e oportunidades em grandes companhias de dança.
Eu conheci a diretora deste projeto há 5 anos através de uma sessão de fotos que fizemos juntas. Ao longo desta jornada ela me convidou pra ser mentora de alguma das meninas e fico muito grata por poder guiá-las nesta jornada que é o ballet.
O EmpowHer New York foi uma iniciativa sua para o empoderamento feminino, mas hoje vocês já contam com patrocinadores. O que te motivou a começá-lo? Como você se sente vendo o crescimento desse projeto?
O Dançando Para Não Dançar foi o seu primeiro contato com o ballet. Você ainda participa do projeto de alguma forma? Qual a importância de projetos e campanhas que incentivem garotas não-brancas a participarem do ballet?
Comecei no Dançando Para Não Dançar aos 8 anos de idade e foi uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida, graças ao meu talento e as aulas de dança consegui chegar onde estou hoje. Atualmente não tenho nenhum envolvimento direto com o projeto.
Depois de morar a mais de 10 anos nos Estados Unidos e ter crescido no Brasil, como você avalia a diferença da discussão racial e inclusão de pessoas negras nas artes nos dois países?
Acho que aqui nos Estados Unidos a oportunidade é muito maior, você tem mais chances e possibilidades. As vezes acho que no Brasil não é somente sobre seu talento, tem muito de conhecer alguém e ter boas conexões. Além do mais, nós só temos quatro grandes Companhias de dança por aí, o que faz a chance de conseguir uma vaga muito mais difícil. São muitos bailarinos para poucas oportunidades.
No Dance Theatre of Harlem os bailarinos pintavam as sapatilhas e meias com a cor da pele. Você ainda tem que fazer isso ou as empresas já começaram a incluir o mercado das bailarinas não-brancas?
Isso é uma tradição e visão, é a assinatura principal do Dance Theatre of Harlem. Até hoje o mercado não está pronto para esta demanda. Eles precisam se colocar no lugar do bailarino e entender o quanto é difícil ter que fazer este processo da pintura das sapatilhas tantas vezes. Eu inclusive não tenho mais meia-calça no meu tom de pele, ainda espero que em breve a marca que utilizo se manifeste e mude sua visão do mercado.
Mariana tem 25 e se formou em medicina. Carioca, ama viver no Rio de Janeiro, mas sonha em voltar para a Escócia. É feminista deboísta e acredita que todo mundo merece chá.
Vitória Régia tem 24 anos, é formada em jornalismo e acredita no poder da comunicação para mudança social. É nordestina de nascimento, paulista de criação e carioca por opção. É apaixonada pela arte de contar histórias e dedica a vida a militância nos movimentos feminista, negro e LGBT.