Na época do orkut, além de comunidades com nomes estranhos, bombavam os depoimentos, geralmente declarações de afeto meio padrão, que incluíam esta bomba: “Eu te amo incondicionalmente.” Ideia estranha, porque o amor precisa de condição. Pregar que o amor deve ser incondicional é dizer que o sentimento vale mais do que a boa convivência, o cuidado, o respeito mútuo. O amor precisa estar condicionado a muitas coisas e, se não estiver, vira uma obrigação perigosa.
Esse conceito de amor é muito parecido com a posição compulsória da mulher como devotada à relação, que ama independente de qualquer coisa, mesmo que seja violência. Vinicius de Moraes disse que “A mulher foi feita para amar, para sofrer pelo seu amor e pra ser só perdão”. Esse poema escancara o absurdo que permeia as relações e as declarações de amor incondicional, porque se o perdão for independente do erro, não é perdão, mas submissão.
Não é só no amor romântico que a incondicionalidade aparece no universo da violência contra a mulher. A maternidade compulsória e seus desdobramentos na amizade feminina também são cheias desses conceitos. Porque pensamos nas mulheres e meninas como mães, achamos sempre que vão nos amar, aceitar e perdoar, independente do vacilo. Assim, priorizamos as relações românticas, por acharmos que, não importa o que aconteça, as amigas estarão lá. E assim segue na prática uma desvalorização da amizade feminina, apoiada no amor incondicional.
O nosso amor precisa ter condições: que não gritem, não batam, não manipulem, não tratem como loucas, não despertem os piores sentimentos, não deem insegurança, não acabem com a autoestima, não façam nos sentir menores. Em todas as relações – românticas, de amizade, familiares – o amor precisa ver no tratar bem o seu limite. Amor incondicional é abuso, e precisamos parar de confundir as duas coisas.
Teresa tem 18 anos, estuda ciências sociais na UFRJ, é professora voluntária de geografia e assistiu a todas as temporadas de Law&Order SVU. Em seu tempo livre faz yoga, planos pra revolução e comida vegana. É principalmente má, mas aprendeu alguma bondade com Harry Potter.