Se você curte séries, é bem provável que já tenha assistido a Broad City, ou pelo menos já ouviu falar. O programa, que estreou em janeiro de 2014 pela Comedy Central, já completou sua segunda temporada e terá uma terceira no ano que vem, mas antes mesmo de chegar à TV já fazia sucesso como websérie de mesmo nome. As histórias giram em torno de Abbi e Ilana, duas mulheres de vinte e poucos anos que moram sozinhas em Nova York e vivenciam todo tipo de perrengue que a cidade pode proporcionar. As personagens nada mais são que versões um pouco mais jovens e exageradas de Abbi Jacobson e Ilana Glazer — as maravilhosas criadoras, roteiristas e produtoras-executivas da série.
Para quem quer matar as saudades ou está em dúvida se vale a pena assistir ou não, fiz uma lista de cinco motivos pelos quais Broad City se tornou uma das minhas comédias favoritas:
1) Abbi e Ilana subvertem o clichê de que amizade entre mulheres nunca é verdadeira. Infelizmente, é mais do que comum vermos amizades femininas da ficção sendo retratadas como rasas ou falsas, sempre manchadas pela rivalidade e pela competição — normalmente por causa de um homem —, como se isso representasse a realidade. Abbi e Ilana estão aí para provar o contrário: mulheres podem, e devem, nutrir uma relação de amizade sincera e duradoura. Elas genuinamente se amam (Ilana, inclusive, muitas vezes demonstra uma obsessão hilária pela Abbi) e uma coloca a felicidade da outra acima de qualquer coisa. Entre as duas não há inveja, julgamentos, muito menos competição — pelo contrário, elas se apoiam, se elogiam e se incentivam nas mais variadas circunstâncias. É um relacionamento inspirador e muito bonito de assistir.
2) Como já deve ter ficado claro no tópico anterior, esta é uma série feminista, mas não de um jeito forçado. Sabe o teste de Bechdel? Broad City passa com MUITA folga. As duas até falam sobre homens, mas este está longe de ser o assunto principal de suas conversas, que podem variar dos tópicos mais banais aos mais aleatórios e incríveis, como divagar sobre crushes por desenhos animados ou responder à pergunta “Se você fosse um cão, de que raça seria?”. Nesse aspecto a série é o oposto Sex and the City (1998) (que eu também amo, mas Carrie, Miranda, Samantha e Charlotte quase sempre parecem só ter seus namorados, maridos ou amantes como assunto em comum).
Além disso, Abbi e Ilana não têm vergonha de seus corpos, muito menos de expor suas sexualidades, e tomam a iniciativa de abordar quem quer que estejam a fim sempre que têm vontade.
Nós somos, tipo, heroínas feministas agora.
Nossas rainhas também não abaixam a cabeça para homem nenhum. Um dos meus momentos favoritos acontece no último episódio da segunda temporada, quando um cara qualquer passa pelas duas e fala que elas deveriam sorrir, já que são tão bonitas. A resposta:
Sambando na cara do patriarcado.
3) Broad City é uma série muito fácil de assistir em maratona e de rever quantas vezes quiser (e olha que eu normalmente não gosto de fazer maratonas, prefiro intercalar as séries!). E não é só porque cada temporada tem dez episódios de vinte e poucos minutos, mas principalmente porque eles são bem diversificados, dinâmicos e com estruturas e histórias diferentes entre si. A beleza da série é transformar situações banais — como uma cirurgia nos dentes, a busca por um aparelho de ar-condicionado ou por um apartamento — em episódios completos, muito inusitados e deliciosamente hilários. Isso faz com que você gradualmente se sinta mais próxima das protagonistas, a ponto de se sentir amiga das duas (quem me dera!).
Eu no dia em que conhecer Abbi e Ilana.
4) Nova York é o pano de fundo para os episódios. Isso pode parecer batido, mas a conexão dos personagens com a cidade é um dos aspectos mais interessantes da série. Abbi, Ilana e seus coadjuvantes nos apresentam a uma Nova York mais realista, sem muito glamour, o que nos faz sentir em casa. Há, sim, episódios que estampam os cartões-postais mundialmente famosos de Nova York — como a Times Square, a Estátua da Liberdade, o Central Park —, mas Broad City se mostra encantada de verdade com os detalhes que só quem vive lá poderia retratar. Enquanto em um momento a gente acompanha as protagonistas dentro do metrô, encarando de vagão em vagão as loucuras e diversidades enormes da cidade, em outro a comédia produz uma sequência surreal em North Brother Island — uma ilhazinha isolada nos arredores do Bronx que dificilmente seria explorada em alguma outra série.
5) Como se tudo isso não bastasse, Amy Poehler, uma das minhas deusas da comédia, é produtora-executiva de Broad City. Glazer e Jacobson a conheceram através do Upright Citizens Brigade (grupo de esquetes e comédia de improviso) e eventualmente a convidaram para participar de um dos episódios da websérie. Poehler acreditou no potencial das meninas e concordou em ser produtora-executiva do projeto, ajudando ainda no processo de transição para a TV. Além disso, ela também fez participação no último episódio da primeira temporada da série. Duvido que você não tenha se convencido de assistir agora!
Isabela (ou Isa, ou Bela) tem 26 anos e aos 18 desceu a serra para viver no Rio. É formada em Produção Editorial e ama trabalhar no mundo dos livros, mas tem uma grande queda pela TV e passa boa parte de seu tempo livre assistindo a milhares de séries — seus objetivos de vida são se tornar uma participante de Survivor (e vencer, claro) e ser BFF da Amy Poehler, Tina Fey, Mindy Kaling e Julia Louis-Dreyfus.