AVISO: o texto contém spoilers do filme Frozen: uma aventura congelante.
Não é à toa que o desenho animado Frozen: uma aventura congelante tenha feito muito sucesso desde sua estreia no fim do ano passado: piadas engraçadas, músicas chicletes e personagens com muito a nos ensinar. O único defeito que me vem à cabeça agora é o subtítulo à la Sessão da Tarde na tradução em português.
Caso você ainda não o tenha visto, é bem provável que pelo menos já tenha escutado a principal música da trilha sonora, “Let It Go”, interpretada por Idina Menzel e que ganhou até versão da Demi Lovato. Apesar de muita gente achar essa canção extremamente irritante, eu a considero um hino de empoderamento contra o medo. A porta voz dessa mensagem é uma das personagens principais, Elsa, que tenta mascarar seu verdadeiro eu para não ter que enfrentar seus medos, o que, no fim, se prova inútil.
Explico: a princesa Elsa é dotada de uma espécie de “magia congelante”, atributo duramente reprimido por seus pais depois de um acidente que machucara sua irmã, a princesa Ana. Ela então passa a viver isolada do mundo por força dos pais, o que a faz pensar que é uma pessoa extremamente perigosa. Mesmo que sinta falta da irmã, o medo de machucá-la novamente é maior que tudo.
Depois de grande, já os pais sem vida, ela se isola mais ainda, construindo um castelo de gelo nas montanhas, onde finalmente consegue se libertar e se compreender, mas ainda é atingida pela solidão e pela frieza. Não vou ficar explicando a história inteira em detalhes, mas a resolução só se dá quando Elsa, já rainha, consegue conciliar seus poderes mágicos com a presença da amada irmã. Finalmente todos ficam em paz e felizes, fim e etc.
O medo de Elsa é totalmente racional e explicável, e não tem origem nela mesma, mas em seus pais, que a induziram a acreditar que seus poderes eram irrevogavelmente do mal. Se desde o começo eles tentassem descobrir juntos uma maneira de lidar com a magia em vez de escondê-la, muito sofrimento teria sido evitado.
É doloroso não nos sentirmos livres para ser quem somos, ninguém merece isso. E mais: ninguém tem o direito de nos fazer sentir como se fôssemos um erro. Algumas coisas em nossa natureza são para serem aceitas, não questionadas. Como diz a música: “let it go!”. No bom português, Claudia Leitte talvez seja a porta voz da mesma mensagem: “extravasa!”, seja quem você é sem medo de ser feliz.
Nada será perfeito, é claro, afinal todos têm problemas, e eles existem para ser enfrentados, não evitados. Isso intimida e dá o maior medo de cara, não vou mentir. E é provável que tenhamos recaídas, momentos sombrios como o gelado castelo de Elsa. E tudo bem. O importante é não se isolar daqueles que te fazem bem e confiar em si para ser forte e vencer seus medos.
Julia Oliveira, atende por Juia, tem 22 anos e se mete em muitas coisas, mas não faz nada direito — o que tudo bem, porque ela só faz por prazer mesmo. Foi uma criança muito bem-sucedida e espera o mesmo para sua vida adulta: lançou o hit “Quem sabe” e o conto “A ursa bailarina”, grande sucesso entre familiares. Seu lema é “quanto pior, melhor”, frase que até consideraria tatuar se não tivesse dermatite atópica. Brincadeira, ela nunca faria essa tatuagem. Instagram: @ursabailarina
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