Antes que você pense que é um pouco tarde demais para falar sobre easter eggs por já estarmos em pleno mês de julho, explico que não tratarei hoje daqueles deliciosos ovos de chocolate que costumamos trocar com nossos entes queridos no feriadão da Páscoa. Há, no entanto, uma semelhança entre estes e os easter eggs que falarei aqui: uma grata surpresa guardada em seu interior, como se fosse um “bônus”. Tal semelhança não é coincidência: assim como na infância nos divertíamos caçando ovos de Páscoa escondidos, os criadores de videogames, programas de computador, filmes, séries, sites e obras de arte costumam deixar pequenos segredos virtuais em seus trabalhos como forma de presentear seus fãs, por isso são amplamente conhecidos e difundidos na internet como easter eggs (“ovos de Páscoa” em inglês). Cabe a nós desvendá-los um a um.
Existem easter eggs dos mais variados tipos e funções. Há aqueles que servem para expandir a discussão acerca de um determinado universo, como no caso de Lost. Quando a série estava no ar, era muito comum que os fãs se reunissem online para debater e esmiuçar cada episódio em busca de pistas que alimentassem as mais diversas teorias sobre sua mitologia e possíveis acontecimentos. Entre todos os easter eggs deixados por seus criadores — e não foram poucos —, os mais recorrentes diziam respeito a elementos importantes da série, como a Iniciativa Dharma e os famosos números que permearam a trama do início ao fim: 4, 8, 15, 16, 23, 42.
Há também easter eggs como forma de o autor deixar sua marca. É o caso de Warren Robinett, criador do jogo Adventure, desenvolvido para o Atari 2600 em 1980. Considerado o primeiro caso de easter egg descoberto em videogames, para desvendar o segredo o jogador deve encontrar uma chave no formato de um único pixel e carregá-la até uma sala secreta, onde a assinatura de Robinett é revelada. Pode parecer algo simples, mas torna-se relevante dado o contexto da época: a Atari ainda não permitia que os desenvolvedores assinassem seus próprios projetos. No cinema há também um exemplo conhecido: Alfred Hitchcock. O cineasta fez discretas pontas como figurante em grande parte de seus filmes, algo que se tornou tão famoso com o tempo que o público já aguardava ansiosa e atentamente o momento de sua breve aparição.
Há ainda easter eggs que sugerem o futuro de uma narrativa. Na segunda temporada de Breaking Bad, por exemplo, a sequência dos títulos de alguns episódios indica um acontecimento marcante de seu desfecho — “Seven Thirty-Seven”, “Down”, “Over”, “ABQ”. Há também aqueles que explicam certos mistérios, como em Friends. Quem assistiu à série já deve ter se perguntado como Monica, Rachel, Phoebe, Chandler, Ross e Joey parecem sempre conseguir sentar naquele clássico sofá do Central Perk sem grandes dificuldades, mesmo quando o local está cheio. A resposta se encontra na imagem abaixo. Observe com atenção a plaquinha em cima da mesa:
Não me pergunte como, mas de alguma forma os personagens conseguiram algum tipo de “reserva permanente”, por mais estranho que isso possa parecer. A placa aparece em diversos momentos ao longo da série.
É impossível falar de easter eggs sem também fazer menções à Disney e à Pixar. As surpresinhas escondidas nas produções conectam os filmes entre si, seja através de participações de outros personagens ou com elementos recorrentes.
A caminhonete do Pizza Planet, originária de Toy Story (1995), é recorrente em quase todas as animações da Pixar. Eis sua aparição em Vida de inseto (1998), à esquerda
Além de todos esses exemplos, há uma incontável lista de easter eggs que podem ser encontrados nos extras de DVDs, em sites como o Google e em diversos softwares. O que une produtos tão distintos é a possibilidade de conexão entre seus criadores e os consumidores mais atentos. Apesar de a internet acelerar o processo de descoberta desses segredos, ela também transforma essa busca em uma experiência coletiva. Assim, o mistério perde um pouco de seus disfarces, mas ganha força no modo como junta pessoas de todo o mundo em torno de detalhes que podem nem sempre ser tão relevantes — mas nunca perdem sua capacidade de divertir, agregar e conectar através de um simples segredo.
Agora quero saber de vocês: quais são seus easter eggs favoritos? 🙂
Isabela (ou Isa, ou Bela) tem 26 anos e aos 18 desceu a serra para viver no Rio. É formada em Produção Editorial e ama trabalhar no mundo dos livros, mas tem uma grande queda pela TV e passa boa parte de seu tempo livre assistindo a milhares de séries — seus objetivos de vida são se tornar uma participante de Survivor (e vencer, claro) e ser BFF da Amy Poehler, Tina Fey, Mindy Kaling e Julia Louis-Dreyfus.