Quem é o ISIS na balada?
O ISIS (sigla para Estado Islâmico do Iraque e da Síria) é, basicamente, um grupo armado que vem tomando territórios nesses países, provocando milhares de mortes locais e em outros lugares do mundo.
O surgimento inicial do grupo vem do contexto da guerra no Iraque, que começou em 2003 com a invasão dos Estados Unidos e aliados, sob a justificativa que o país possuía armas nucleares e que o regime de Saddam Hussein era uma ameaça. Depois de muitas tensões entre diferentes grupos com diferentes interesses, em 2006, Nouri Al-Malik subiu ao poder com apoio dos Estados Unidos.
Acontece que Malik é xiita, e seu governo foi apontado como responsável por intensificar conflitos que existem entre muçulmanos sunitas e xiitas (duas vertentes que se diferenciam em alguns aspectos, que em geral dizem respeito a diferentes interpretações da mesma religião), tendo sido acusado de matar e torturar sistematicamente pessoas sunitas.
A Síria também teve seu papel. O que começou com protestos de cidadãos contra o governo ditatorial de décadas da família Assad, na época da primavera árabe, degringolou em uma guerra civil e o fortalecimento de diversos grupos terroristas, como a Al-Qaeda. A reação dos Estados Unidos e aliados, em 2012, foi financiar e treinar os “Filhos da Síria”, um grupo que se opunha ao presidente do país, Bashar Al-Assad.
Deu certo? Não muito. O presidente continuou no poder, e vários soldados treinados pela coalizão ocidental foram formar o ISIS, incluindo ex-soldados e ex-membros da Al-Qaeda, defendendo o salafismo, uma vertente extremamente conservadora do sunismo que não acredita na separação entre poder político e religião.
E o grupo cresceu.
Uma das principais formas que o ISIS foi crescendo, e se mantém até hoje, é o financiamento de alguns países, por motivos não apenas ideológicos mas também geopolíticos, já que financiar certos grupos é uma arma para afastar outros grupos do poder.
Conforme foi crescendo, o ISIS foi tomando mais territórios não apenas no Iraque mas na Síria, e adotando táticas terroristas que têm também países do Ocidente como alvos. Paralelamente a isso, muitas pessoas, inclusive meninas, deixaram seus países na Europa e foram se juntar ao ISIS, que promete acolhimento para elas. Muito da fama do ISIS que vemos agora se deve a essa conjuntura.
A crise migratória tem a ver com isso?
Ah, e como tem! A Síria se tornou fonte de uma gigantesca crise de refugiados: um terço da população está deslocada de seu lugar de origem, fugindo da violência, e mais de quatro milhões já saíram do país. A vasta maioria vive em campos de refugiados nos países vizinhos, superlotados e com escassez de suprimentos: a verdade é que nem os países vizinhos nem as Nações Unidas estavam preparados para uma crise desse tamanho.
Com anos de conflito e poucas perspectivas de resolução, uma parte dos refugiados começou a migrar para a Europa, onde os países assinaram tratados internacionais sobre refúgio e oferecem uma melhor perspectiva de vida. Desde a segunda guerra mundial que o continente europeu não recebe essa quantidade de refugiados, e a reação dos chefes de Estado não era sempre de boas vindas: foi aí que começamos a ver as cenas marcantes e horrendas de pessoas passando fome em ilhotas na fronteira, de bebês mortos na beira do mar, de barcos abarrotados de pessoas que não podiam estacionar no porto dos países.
Mas o que eles querem conseguir?
É difícil saber exatamente – até recentemente o ISIS fazia pouco contato com o resto do mundo, além de que não são tantas pessoas que voltaram de lá. O que chega até nós é, em boa parte, uma propaganda extremamente calculada, baseada fortemente em justificativas religiosas.
O ISIS está adotando forte presença nas redes sociais, o que começou com a divulgação de vídeos que mostravam, por exemplo, execuções de prisioneiros, e faz parte de uma estratégia de causar impacto ao propagar a ideia que eles são vitoriosos. Eles já divulgam até mesmo imagens motivacionais, com fundos bonitos e palavras de incentivo pra que as pessoas vão até a Síria e se juntem ao ISIS. Tem funcionado também, porque várias/os jovens da Europa estão fazendo isso.
Inicialmente, podemos dizer (até pelo nome do grupo) que o objetivo primário é a formação de um Estado Islâmico, baseado na ideologia religiosa radical que visa a instituição de um califado. O califado é uma forma de organização que mescla religião e política, é uma espécie de monarquia liderada por um califa – que é alguém considerado sucessor válido do profeta Mohammed.
E aquela tal de jihad?
A palavra “jihad”, que a gente tanto escuta falar, vem do árabe e é comumente usada para designar a luta dos muçulmanos para espalhar sua fé, então, o ISIS pode ser considerado Jihadista (apesar de que a palavra “jihad” pode ser entendida de muitas formas diferentes, que se diferenciam bastante da ideia violenta que tem o ISIS).
E aí, muitas das interpretações que a vertente salafista faz do livro sagrado muçulmano (o Corão) são completamente opressoras, permitindo violência extrema contra outros grupos, mulheres, pessoas LGBT etc, e passam então a ser permitidas pela própria lei deles.
Então a culpa é da religião?
Não. Precisamos, acima de tudo, prestar bastante atenção nos possíveis preconceitos que a existência do ISIS pode suscitar.
A religião muçulmana é uma das maiores e mais diversas no mundo, possuindo muitas correntes diferentes, muitas ideias diferentes e muitas formas diferentes de praticá-la. A vertente salafista é apenas um dos galhinhos.
Não se trata, também, de uma dualidade entre os muçulmanos “bons” e os muçulmanos “maus”, porque as vertentes dessa religião são muito mais que duas. O livro sagrado que os muçulmanos utilizam, o Corão, propaga tantos preconceitos e opressões quanto… a bíblia.
São as pessoas que escolhem o que fazer com isso.
Quer saber mais? Saca só:
Thais tem 20 anos e estuda Relações Internacionais e Filosofia. Se sente bem estranha se apresentando, por isso pagou uma coxinha a quem escrevesse isto por ela. Essa pessoa também achou relevante mencionar que ela reclama mais do que o socialmente aceitável.
Maíra até agora não entendeu o binário de gênero. Feminista interseccional e queer, por favor. Sempre com um fone no ouvido e um livro aconchegado na mão. Sonserina da risada gigante e nordestina que nunca superou a saudade da praia, se diverte assistindo seu gato Borges correr atrás do próprio rabo.