[Texto: Isadora Maldonado e Natasha Ferla; Fotografia: Alile Dara; Modelos: Renata Pegorer e Laura Miranda]
Como falar sobre lidar com os seus “defeitos” e marcas sem cair em clichês que lemos muito, mas que ajudam pouco? Acho que entender tudo isso como um processo já ajuda bastante.
Não me entenda mal, decidir de vez amar o seu corpo é uma decisão maravilhosa e radical (sim, radical!). Radical porque vivemos numa sociedade de imagens. Onde quer que olhemos, somos bombardeadas com ideais e padrões que devemos seguir. Poder parar e dizer “não! Eu vou ser como acho que devo ser” vai contra uma mídia e indústria que querem te ver consumir X produtos em ordem de chegar mais perto daqueles ideais que estão por toda a parte. Por isso que amar-se – ou pelo menos se aceitar –, é sim um ato radical ao caminho do amor próprio. Mas, às vezes, esse discurso pode ser difícil de assimilar e de se identificar.
Nosso corpo é onde a gente vive. Todos os dias, os ruins, os bons, os mais ou menos. Lidar com ele, seja como for, é uma decisão diária. O corpo em si também se transforma com o tempo, algumas vezes a gente controla isso, outras vezes não. Por que reduzir toda essa complexidade a uma ou duas frases de efeito?
Seria ótimo se algum dia todas as pessoas do mundo acordassem e decidissem aceitar seus corpos exatamente do jeito que são porque devia ser simples assim. Devia ser, mas não é, talvez por isso as frases “aceite seu corpo” sozinha pareça insuficiente e até meio publicitária. Ao mesmo tempo em que eu quero muito que esse cenário imaginário aconteça, ao mesmo tempo em que eu quero gritar às minhas amigas o quão perfeitas elas são e perguntar o PORQUÊ de elas não verem isso (e às vezes eu grito mesmo), talvez isso fosse só hipócrita, no fim das contas.
A relação que cada uma de nós tem com seu próprio corpo é única. Mas pode apostar que todo mundo passa por uns dias em que é complicado se amar e se achar bonita. Ninguém disse que o caminho da aceitação seria rápido e fácil, mas garanto que os resultados, ainda que venham aos poucos, são gratificantes. Não sinta vergonha de ter vergonha, mas tente entender de onde vem esses sentimentos. Entender o que causaram essas cicatrizes, essas manchas, todas essas imperfeições que te fazem ser quem tu é.
Alile Dara Onawale, mulher baiana-negra-lésbica que carrega no nome e nos olhos a sensibilidade e pureza do universo feminino. Conectada com sua ancestralidade, teve seu primeiro contato com a fotografia antes dos 15 anos, quando ganhou de sua avó sua primeira câmera fotográfica. Fruto de uma geração que resgata e transcende, celebra diariamente através da sua lente o retrato da expressão de tantas outras mulheres negras que sentem e vivem.