Tumblr vem de tumblelog, um termo anterior e homônimo a microblog, que, no meu léxico, quer dizer “muito com muito pouco”.
Microblogging é a cara da internet que nós conhecemos hoje, dinâmica, 50 megas, onde cada segundo conta. Já não há tempo ou justificativa para que todo post venha acompanhado de um discurso longo. A web 2.0 pede poder de síntese: memes, emojis, hashtags. O YouTube está para o WordPress como o Vine para o Tumblr. Micropost é o antitextão.
TUMBLR X FACEBOOK
O dashboard do Tumblr funciona como o feed do Facebook, aparecem ali as últimas postagens de quem você segue num scroll infinito e default, com os botões de reblog e like, respectivamente compartilhar e curtir, mas sem opção de comentar – decisivo. A sugestão da caixa vazia inflama a obrigação egóica de ter sempre algo definitivo a dizer, todo espaço é passível de conquista. A aderência ao Facebook é massiva no Brasil: oito em cada dez pessoas tem uma conta na rede, que é também a maior motivação entre os recém-internautas ou quem aspira a se conectar. Não é exagero dizer então que a dinâmica do Facebook e a já endêmica postura de comentador de portal se retroalimentam intoxicando grande parte da internet (passamos em média ? do nosso tempo online dentro do Facebook). “Não leia os comentários” e não se deixe enganar pela suposta neutralidade das interfaces, nós somos, online e offline, fruto dos meios. Sem a intermediação dos comentários, o Tumblr flui mais leve de um post ao outro. São muitas imagens, pouco texto; os vídeos e áudios podem ser descolados do dashboard como em um pop-up para não interromper a navegação.
“Eu vou ser honesta com vocês, tenho scrollado e passado reto por um monte de posts ultimamente porque vocês escrevem demais e eu tô cansada.”
Posta-se muito, rebloga-se muito. Não há, como no Facebook, uma cota implícita de posts diários. E como o Tumblr não é um perfil pessoal quase público e quase obrigatório, não espera-se que ele reflita quem são você e sua rede de contatos. A reincidência de “família” na #CiteCoisasQueOdeiaNoFacebook (atenção para o slutshaming e o elitismo rolando soltos) diz muito sobre a sensação de estar na rede: um eterno climão de festa em família (ou confraternização da firma). Você fica super exposto, medindo com cuidado cada comentário e peça de roupa, sempre esperando o que você não quer ouvir. É, por mais ingênuo que soe, se sentir sempre julgado.
“Eu me preocupo em parecer solitária ou desesperada quando posto no Facebook.” Via screenshots of despair
O Tumblr, menos personalista e menos público, é um ambiente mais relaxado, de muitos olhares, sim, mas menos dedos na cara, com mais espaço para experimentação.
AVANT GARDE
Usuários muito jovens que entendem e transformam a linguagem virtual, como só como quem já nasceu online poderia, compõem uma espécie de vanguarda onde o mainstream e a própria noção de direitos autorais perdem força frente ao acesso e domínio das ferramentas de remixagem, criação e publicação, como atestam os memes, fanfics, mashups, poops etc.
“Se eu ganhasse 1 dólar toda vez que alguém com mais de 40 anos me dissesse que minha geração é uma droga eu teria dinheiro suficiente para comprar uma casa na economia que eles arruinaram.” Via yik-yaks
Essa efervescência toda é muito bem recebida pela plataforma do Tumblr através de posts (com edição HTML) de texto, foto, gif, áudio, vídeo e chat, além de conteúdo embedado (tipo aqueles tweets que são tweets de verdade e não só uma imagem estática). O resultado é um meio termo entre blog tradicional e mood board que funciona super bem como um espaço para coleções abstratas e pessoais ou como um blog específico sobre absolutamente qualquer coisa: culinária, beleza, esportes, e-sports, feminismo negro, feminismo gordo, feminismo pornô, feminismo gamer, muita astrologia, aesthetics, séries, gatos, bronies, goticismo suave e política em todos seus focos e vertentes. A maneira como os tumblrs interagem entre si e com a rede também são diversas. Os blogs mais restritos, como o do MoMA (!), os portfólios e até esse meu tumblr dedicado à Arquivo X, se baseiam na produção própria sem nenhum reblog. Os mais pessoais costumam ser mais bagunçados e democráticos e quase inteiramente compostos por reblogagens. Os coletivos dependem das contribuições dos usuários, como o screenshots of despair (que é meio que a versão gringa do Imagens de Dor e Sofrimento), o HISTÓRIA SEM GRAÇA e vários blogs de tatuagem. Há quem invista na personalização do tema (que pode ser programado do zero) e aposte no tumblr como “site oficial” com direito a domínio próprio e há quem use a rede como complemento ao site primário, mais como uma rede social propriamente dita, como é o caso do tumblr da Capitolina.
ARTSY
Além dos muitos ilustradores e artistas que usam a internet como uma ferramenta difusora, como essas que as capitolinas indicaram nesse apanhado aqui, o Tumblr também abriga uma leva artsy de usuários que fazem da tela o meio e o sujeito da discussão. Na arte pós-internet, ou post internet art, a internet fala sobre internet dentro da internet e na linguagem da internet, sim. É sobre fluxo e síntese, produzir tanto e tão rápido quanto se consome.
“Uma exposição de artistas que estão sempre na internet e nunca produzem arte nenhuma.” Via an exhibition…
Destaco a Jess Mac, cheia de Kardashians, úteros e emojis, os printscreens do ?? ????? e o Will Burn, seus geradores de cores, gradientes e padrões geométricos. Se bater aquela sensação de “mas isso até eu sei fazer”, fique tranquila, é isso mesmo: a arte é finalmente acessível. E se você não entender nada, continue tranquila, o artista contemporâneo ainda não entendeu muita coisa também.
Semana que vem eu volto a falar sobre arte de internet tentando desmistificar o Vaporwave. Importante por ora é afirmar o Tumblr como um dos lugares mais versáteis e interessantes da internet. É onde eu me sinto mais à vontade e é, portanto, minha persona online que mais me faz jus.
TUMBLR 101
Resolveu criar uma conta? O Tumblr é bem fácil de usar e não sobra muito para explicar além do que ele mesmo ensina. Ficam aqui algumas dicas que ele não entrega:
XKIT
A extensão XKit, entre outras várias funções, automatiza o truque que os usuários usam para comentar os posts (que é confuso, mas é basicamente um reblog do post + seu comentário) e diminui o número de cliques até o reblog (o Tumblr até tem uma função parecida, ALT + CTRL + clique no reblog, mas a XKit é mais completa e deixa você escolher pra qual dos seus blogs o post vai, colocar tags, legenda etc).
URL.tumblr.com
As urls (url é seu endereço) do Tumblr não são permanentes e podem ser alteradas quando e quantas vezes você quiser. Tente a sorte nos geradores de url se faltar inspiração.
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Não subestime as tags, fica muito mais fácil navegar no seu próprio tumblr mantendo seus posts minimamente organizados, além de ser parte fundamental da linguagem e cultura de internet. A tag #me costuma sinalizar as selfies e conteúdo pessoal, adicione “/tagged/me” em seguida do “URL.tumblr.com” e muito possivelmente você vai descobrir quem está por trás dela. Não esquecer de taggear os posts possivelmente problemáticos com #tw ou #trigger warning é importante, #nsfw também.
HORA DE AVENTURA
Quando você enfim encontrar o tema perfeito para o seu tumblr vai também esbarrar em algum detalhe que não te satisfaz. O tema é importante, é o template, a cara do seu blog. Mesmo que você não entenda nada de programação, arrisque uma visita ao editor HTML: pode parecer confuso mas costuma ser razoavelmente intuitivo e, além de resolver o que te aflige, pode despertar seu interesse por programação.
CHAMA AS MIGA
Além de manter vários tumblrs em uma só conta, você pode convidar outras contas para administrar cada um dos seus blogs coletivamente naquele mesmo esquema das páginas e grupos do Facebook.
50 ANOS EM 5
Otimize a navegação pelo dashboard com as teclas J e K. J pula para o próximo post e K para o anterior.
SIGAM-ME AS BOAS
O seu dash é aquilo que você faz dele, depende exclusivamente das contas que você segue (e lá todo mundo segue todo mundo, não precisa ficar com pé atrás ou equalizar o número de seguidos e seguidores). Um bom começo é seguir a Capitolina e suas colaboradoras: Capitolina em revistacapitolina, Bárbara Carneiro em babimouton, Beatriz Quadros em mecasariacomumziper e biaportifolio, Beatriz Rodrigues em nonsensewelike, Beatriz Trevisan em biadrill, Carolina Stary (eu mesma) em technopaganism, xn--3s8h, xfilesconfusingcoincidences, maio2015, fazemoscopias e no finado umservidorporvez, Clara Browne em umacertazelig e rocambolecomgoiabada, Duds Saldanha Rosa em sirduss, Gabriela Sakata em artificie, Helena Zelic em helenadesenha, Isadora M. em cukiercatz e ohdiet, Isis Ribeiro em frolis, Laura Athayde em ltdathayde, Lila Cruz em colorlilas, Lorena Piñeiro em lorenastrikesback, Marina Monaco em rottenones, Marina Sader em mar-de-marina e fridando, Natália Schiavon em xxxcuzxxxme e Rebecca Raia em rebeccaisanadult.
Pouca coisa vai me doer como ter escrito um textão sobre o Tumblr.
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