Texto por Helena Zelic e Laura Pires
– É azul-piscina!
– Não, é verde-água!
– Claro que não, é óbvio que é azul-piscina!
– Nunca, isso é verde-água e, se não for, que um raio caia na minha cabeça.
Você certamente já teve essa discussão com alguém. E nunca caiu nenhum raio. E sabe por quê? Justamente porque ninguém está errada. Pessoas são complexas, cada uma tem sua trajetória, um jeito de ver o mundo. Mas será que não dava para evitar algumas discussões meio… idiotas? Você sabe do que estamos falando. Com certeza já discutiu, bateu o pé, manteve-se firmemente “cabeça dura” a respeito de algo bobo, geralmente com pessoas íntimas. Namoradas, namorados, irmãos, pais, amigos – esses costumam ser os alvos número um. E nós também acabamos sendo o alvo número um quando eles querem discutir besteira com alguém. Aí lá vamos nós afirmar com veemência que não, que com toda certeza é verde-água, que é estúpido achar que possa ser azul-piscina, que a pessoa deveria calar a boca porque está errada – e aí o climão vai ficando cada vez maior.
A questão é: ela não está errada. Não fica mais fácil se percebemos que, na prática, estamos concordando totalmente? E que, então, não tem motivo nenhum para discutir a teoria?
Essas diferenças bobas de opinião acontecem simplesmente porque, como dissemos, cada pessoa tem suas vivências, suas experiências e, assim, vamos aprendendo a ver as coisas de maneiras diferentes. Isso não quer dizer que as coisas em si sejam diferentes por si só: somos nós que enxergamos, pelas nossas próprias lentes pessoais, essas nuances. Ao mesmo tempo, nem tudo é uma grande confusão – imagina só se tivéssemos que decidir se é azul-piscina ou verde-água toda vez que olhássemos para uma mesma cor! Algumas constâncias se mantêm.
Por exemplo, o vermelho que você vê não é mesmo que eu vejo, mas, ainda assim, sabemos que aquela cor é vermelha porque aprendemos assim. Complexo, né? Mas pensa no seguinte: cada pessoa é uma pessoa. Desse modo, cada pessoa tem uma história de vida, uma trajetória de experiências… e um jeito de ver o mundo que é próprio, é de cada um. Se a pessoa X viveu tais experiências, vai encarar as coisas de uma forma. A pessoa Y viveu outras trajetórias, e vai ter um ponto de vista totalmente diferente sobre a mesma coisa. Se formos exemplificar com cores, é isso. O vermelho é o mesmo, mas o jeito que as pessoas o veem pode ser diferente. E a gente nunca vai saber o que é estar na pele da outra pessoa, então, julgá-la por ver o mundo de um jeito diferente é uma atitude que não faz nem sentido.
Da mesma forma, também não é como se todo mundo fosse completamente diferente e cada pessoa, por ter sua própria trajetória, não tivesse nada em comum com outra, de trajetória diferente. Pensando assim, podemos dizer que as pessoas não são cores sólidas e que não é tudo “preto no branco”. Na prática, por mais que nos achemos super estáveis e coerentes, somos, na verdade, seres humanos em constante movimento. É como se não fôssemos nem preto nem branco, mas uma escala de cinza, cheia de nuances e detalhes que podem sempre variar. É por isso que ninguém é totalmente igual, mas ninguém é totalmente diferente. Discordamos em muitas coisas, mas também nos alinhamos em relação a várias outras.
E é por isso que é bom nos relacionarmos com pessoas: é o que nos faz perceber que não somos iguais a ninguém, mas, ao mesmo tempo, também não somos tão diferentes assim. A comunicação com o outro é possível e pode ser muito prazerosa se respeitar os limites de cada um e o limite do todo. Imagina se todo mundo concordasse totalmente com a gente? Seria uma chatice. Ou se, pelo contrário, todo mundo odiasse completamente tudo que a gente fala? Seria extremamente frustrante. O ser humano não é solitário, não. O ser humano é coletivo. Por isso, se relacionar pode ser uma tarefa complexa, mas ninguém nega que seja, no final das contas, necessária.
Usa seu vício em séries e Facebook como inspiração para os textos, para a vida e para puxar assunto com os outros. Adora ouvir histórias e conversar sobre gênero, sexualidade, amor e relações amorosas – gosta tanto desses temas que deu até um jeito de fazer mestrado nisso. É professora de inglês, cantora e pianista amadora de YouTube, fala muito, ri de tudo e escreve porque precisa. Ama: pessoas e queijo. Detesta: que gritem.