Ilustração: Jordana Andrade
“Você realmente tem que admirar como essas mulheres encontram significado em seus dias, como elas tomam conta umas das outras.”
[AVISO: o texto contém spoilers da primeira temporada!]
Se você ainda não assistiu a “Orange is the new black”, corra, porque é uma das melhores séries produzidas atualmente e a segunda temporada estreia dia 6! Nela, conhecemos a história de Piper Chapman (Taylor Schilling), condenada a 15 meses na prisão por ter se envolvido com uma quadrilha de tráfico de drogas quando era mais jovem, a pedido de sua então namorada, Alex Vause (Laura Prepon).
Apesar de essa ser a trama principal, há muitas outras questões sendo exploradas, através das histórias das outras presidiárias. Elas precisam lidar com sentimentos de culpa e arrependimento, quebra de expectativas, sonhos frustrados, falta de liberdade e condições muito limitantes e, ainda por cima, com o abuso de autoridade de vários dos oficiais que formam a equipe de guardas da prisão.
O mais interessante é que há muitas personagens femininas complexas, o que é muito raro de se ver representado nas séries. Através de flashbacks, conhecemos um pouco da história de cada uma em sua vida anterior à cadeia. Mesmo as personagens que não têm relação com a trama central são apresentadas com seus dramas e suas questões, o que cria uma identificação com o público, que as percebe como pessoas reais.
Daya (Dascha Polanco), por exemplo, é uma menina romântica que gosta de desenhar. Quantas pessoas você não conhece assim? Além disso, ela tem uma relação complicada com a mãe, que a deixava tomando conta dos irmãos mais novos enquanto saía com um traficante de drogas. Eventualmente, esse envolvimento levou a mãe à prisão. Daya, com raiva dela, acaba repetindo seu comportamento e indo parar no mesmo lugar.
Na prisão, apaixona-se por um policial e o romantismo inocente dos dois encontra um grande obstáculo quando ela fica grávida. Para não revelar quem é o pai da criança, o que o levaria à prisão, ela conta com a ajuda de outras presidiárias, como a poderosa Red (Kate Mulgrew).
Red é uma russa respeitada e temida entre as presidiárias. Se por um lado ela não aceita críticas e pune quem fala mal de sua comida, por outro cuida das meninas viciadas em drogas e acaba se tornando a figura materna de que muitas sentem falta. Quem a vê completamente confiante em sua cozinha não imagina que ela já foi uma esposa tentando, sem sucesso, obter a simpatia das mulheres de mafiosos russos, a pedido do seu marido.
Ela é a pessoa que as outras presas procuram quando precisam que algo entre escondido na prisão. Ela traz itens mais incrementados a que ninguém tem acesso lá dentro, mas é muito séria sobre a proibição de drogas. Isso cria uma rixa entre Red e Mendez (Pablo Schreiber), o policial corrupto que acha que ela atrapalha seus negócios.
Tricia (Madeline Brewer) tem apenas 19 anos e é viciada em drogas. Quando vivia na rua, mantinha um caderno com tudo que roubava, com o objetivo sincero de voltar ao lugar e pagar, quando tivesse condições. Em uma dessas devoluções, ela acaba sendo presa equivocadamente, quando cruza com um carro da polícia e nem o gerente da loja consegue responder com certeza se ela roubou algo ali. Na prisão, ela vive o conflito entre parar com as drogas e ser uma das protegidas de Red e a tentação de voltar a usar, trazida por Mendez.
Outra personagem que nos dá a sensação de que está ali por muito azar do destino é Watson (Vicky Jeudy). Ela era uma jovem atleta muito talentosa, com faculdades competindo para ter ela como estudante. Em uma festa, envolve-se com um rapaz e rouba uma loja junto a ele, muito mais pela aventura do que com uma intenção real de cometer um crime. A impressão que temos é que a raiva com que ela trata as outras pessoas na prisão é o jeito dela de não ter que lidar com seu próprio arrependimento.
A história de Sofia (Laverne Cox) é uma das mais tocantes. Ela se descobre transexual em um momento da vida em que já era casada (como homem) com uma mulher e tinha um filho. Sua esposa aceita e é compreensiva, pois percebe como essa questão é importante para a felicidade de Sofia. Seu filho não tem o mesmo entendimento. Para pagar pelo processo de readequação sexual (hormônios e cirurgias), Sofia usa cartões de créditos clonados e seu filho descobre e a denuncia. Um dos momentos mais tristes da série é quando vemos em flashback a troca de olhares entre Sofia e o filho, quando ela está sendo levada pela polícia.
A amizade entre Sofia e uma freira (Beth Fowler) é muito interessante por desconstruir a ideia de que a religião tenha sempre que ser intolerante. Elas se aproximam quando Sofia está desesperada, pois o presídio mudou a política de medicamentos e não está mais a fornecendo seus hormônios de reposição, colocando em risco a sua transição. É para essa freira que ela vai mostrar o cartão de Natal que recebeu assinado pelo filho, dando a esperança que ele possa estar começando a aceitar uma aproximação.
Há muitas outras personagens maravilhosas, como Miss Claudette (Michelle Hurst), a imigrante que não recebe nenhuma visita há anos, Nicky (Natasha Lyonne), a riquinha criada por babás e envolvida com drogas, Morello (Yael Stone), que vive planejando sua cerimônia de casamento, mesmo que o seu noivo tenha parado de visitá-la nas suas primeiras semanas encarcerada e que ela mesma tenha se envolvido com Nicky lá dentro, Suzanne “CrazyEyes” (Uzo Aduba), a única que consegue voltar da parte de saúde mental para a prisão normal, graças a um acordo entre seus pais e os advogados e Taystee (Danielle Brooks), que chega a ser libertada, mas volta ao presídio, pois não conseguiu se adaptar à vida lá fora.
O fato de a série mostrar tantas faces dessas personagens nos faz nos interessar por elas e querer saber mais de suas vidas. Esperamos que a segunda temporada mantenha essa qualidade e já estamos ansiosas para reencontrá-las.
Bárbara Camirim tem 25 anos, mora no Rio de Janeiro e acabou de se formar em Comunicação Social. Está aos poucos descobrindo o que quer fazer da vida. Gosta de cinema, séries, literatura e, na verdade, qualquer coisa que envolva ficção.
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