Texto de Debora Albu e Isadora Maldonado
Se pintar é algo habitual desde muito tempo atrás, começando com a Pré-História. Os humanos se pintavam principalmente por hábitos ritualísticos, como a caça e festividades religiosas. Os materiais usados variavam – e até hoje variam –, desde sementes naturais até carvão e outros minérios. É fácil imaginarmos uma dessas figuras: a rainha egípcia Cleópatra. Não só ela, mas os egípcios, em geral, usavam maquiagem por status, como símbolo de beleza e mesmo para adoração a seus deuses. Há registros de que a substância que usavam para pintar seus olhos era preventiva de algumas infecções oculares, fazendo com que a maquiagem tivesse inclusive um uso medicinal.
Mesmo hoje, usar maquiagem continua a ser um ritual. Semana passada, eu, no ônibus, voltando para casa. Duas pessoas passam pela catraca, e sacam de suas bolsas um monte de produtos: base, blush, rímel, batom. Conversam sobre diversos assuntos, indo encontrar outros amigos. A forma como estavam se transformando ali tinha um quê de rito, não só de hábito, como algo automático. A ideia era que todos aqueles produtos poderiam mudar alguma coisa: fosse sua autoestima, fosse a forma como seriam recebidas.
Esses produtos podem, às vezes, dizer algo sobre a imagem que queremos projetar de nós mesmas. Pode significar, às vezes, nós sentirmos mais autônomas quanto à representação que criamos, pois podemos criar personagens, como, por exemplo, ficar parecidas com alguém que admiramos.
O uso de maquiagem pode até mesmo ditar padrões de beleza específicos de regiões ou países. A fotógrafa Esther Honig criou um projeto em que pediu para diversas jornalistas modificarem seu rosto para se adequar às linhas de beleza daquele país/região, mostrando como o uso de maquiagem tem uma relevância social, que ultrapassa o âmbito estético.
Assim como se pintar pode significar algo, não fazê-lo é também importante e os motivos são muitos. Usar muita maquiagem pode trazer problemas de pele, como envelhecê-la ou acentuar a acne. Além disso, muitas vezes ficamos um pouco obcecadas, e pensamos que não somos bonitas o suficiente sem maquiagem, ou que precisamos disso para parecermos mais velhas, por exemplo. Nada disso é verdade, e precisamos nos olhar e gostar de nós mesmas como somos. As meninas do Girls with Style criaram uma hashtag super legal nesse sentido. O projeto da #TerçaSemMake propõe que pelo menos uma vez na semana, às terças-feiras, você se permita não usar maquiagem e poste uma selfie assim, de cara limpa.
Nós da Capitolina acreditamos e incentivamos que você se sinta bonita como quiser, com make, sem make, fazendo seu ritual diário de maquiagem, ou achando que isso é só para quem se apresenta em palcos por aí.
Debora é mestra em Estudos de Gênero e é formada em Relações Internacionais. É carioca, apesar de ter passado uma temporada da vida em Paris e todo mundo a chamar de "francesinha" - por vezes acredita ser verdade. Faz parte da gestão da Agora Juntas, um rede de coletivos feministas no Rio de Janeiro. É ciberativista e feminista antes mesmo de entender o que essas palavras significam.