Antes de começar a falar sobre o tema com as minhas palavras, sugiro que vocês leiam este quadrinho
Traduzindo: “Ela tinha pele azul / E ele também. / Ela a mantinha escondida / E ele também. / Eles procuraram por azul / A vida toda / Então passaram um pelo outro / Sem nunca saber.”, de Shell Silverstein (imagem encontrada no tumblr)
Ok. Segura ele na cabeça e vem comigo.
Eu não sei quem foi que ensinou pra gente que às vezes vale a pena abrir mão de um pedaço da nossa personalidade por causa de um relacionamento. Não estou falando daquelas mudanças necessárias e saudáveis, como, por exemplo, quando a pessoa que é muito ciumenta tem uma namorada que se incomoda com isso e tenta superar o seu “ser ciumento”; ou então um namorado faz muita questão que seu namorado, que é muito tímido, conheça seus pais e, para isso, o menino mais tímido tenta se esforçar para deixar de ser tão tímido para conversar com os pais do outro.
Estou falando de mudar seus gostos, sua aparência, fingir que gosta de uma coisa ou esconder que gosta de outra, de agir como uma pessoa super séria quando se é muito falante, esse tipo de coisa, sabe? Se você já viu o filme Grease, deve lembrar que ele é muito engraçadinho, as músicas são legais, mas que rola uma romantização do mudar-quem-você-é-por-causa-de-outra-pessoa. Por que a Sandy abriu mão do seu jeito quieto e certinho por um cara que tinha vergonha dela do jeito que ela era? Ah não, gente! Nananinanão. Se tem um tipo de pessoa por quem ela não devia mudar era ele! Tá, desculpa. Voltando. O ponto é: será que faz sentido mudar quem se é por causa de uma pessoa? Será que é justo Sandy fazer isso com ela mesma? Será que é justo que façamos isso com a gente mesma?
Sabe aquela história de “opostos se atraem”? Calma, calma. Também acho que, a princípio, é bobeira. Mas em algum grau existe uma verdade nisso: se você é exatamente igual à pessoa com quem você se relaciona, que graça tem? Quais serão as coisas que a pessoa vai olhar em você e vai fazer ela rir e pensar no quanto você é incrível se tudo o que você fizer e disser e gostar ela já vai ter visto antes (muitas vezes no próprio espelho)? Como vocês vão crescer juntos se têm a mesma personalidade, mesmos gostos, mesmas ideias? Uma coisa que me encanta em relacionamentos é que nunca vai esgotar o número de coisas novas que uma pessoa vai descobrir na outra ou com a outra. Ser diferentes significa conversar com pessoas diferentes e apresentar para a namorada ou o namorado gente nova, filmes novos, músicas novas, coisas novas!
Mas chega de falar dos outros. Vamos falar de você! Porque se é ruim para o outro e para o relacionamento que você se modifique toda por causa do outro, é mais doído ainda para você se esconder atrás de algo que o outra pessoa gostaria que você fosse.
Porque cansa. Por experiência própria vou te falar que cansa. Cansa acordar todos os dias sabendo que você vai ter que fingir e atuar. E isso não vale só para relacionamentos amorosos, mas para qualquer outro. Quando eu era mais nova, eu não tinha muitos amigos na escola e só fui fazer depois de bastante tempo. E eu me sentia intimidada pelo grupo de meninas com quem eu andava. Ao mesmo tempo, me sentia excluída mas percebi que isso ficava menos ruim se eu ficasse quieta. Eu não falava muito, não fazia piadas e não me deixava rir livremente, só me permitia dar uma risadinha não-vergonhosa. E qualquer pessoa que passar 5 minutos comigo hoje sabe que isso vai contra a minha natureza. Não sei se na época eu percebia isso ou não; só sei que, quando eu me dei conta, isso me incomodou. É capaz que as meninas nem fizessem isso ou que não fizessem por mal, mas era como eu me sentia. Por muito tempo preferi me sentir assim a ser vista sozinha durante o intervalo.
Só que em algum momento eu cansei disso e percebi que preferia ficar sozinha a ter que me esforçar tanto – e por tanto tempo – para ser querida! Depois disso, depois dessa luz que tive, conheci, na escola, as pessoas que levo comigo até hoje. Justo quando eu resolvi ser eu mesma eu encontrei pessoas que até hoje, 3 anos depois de sair do Ensino Médio, são as que me entendem e com quem posso ser eu mesma.
Agora, lembra do quadrinho? É isso aí. Gata, quando você não é você mesma, vai atrair para si pessoas que são parecidas com a “você” não-verdadeira, e será que você vai gostar dessas pessoas? Pode até ser que sejam pessoas legais, ou com quem você gostaria de se dar bem e de ser amiga, mas existem muitas pessoas legais que vão te aceitar como você é. Acredite quando eu digo que amizade ou namoro nenhum faz valer a pena abrir mão de você mesma. Nem popularidade, nem necessidade, nem pressão. Porque uma hora você vai se cansar, ou, pior, se perder e até esquecer quem realmente é!
Existem umas 7 (nunca sei se é esse mesmo o número) bilhões de pessoas no mundo. Alguém vai combinar com a sua personalidade. Na verdade, não é ousadia dizer que muitos e muitos alguéns vão combinar. Não só como namorados e namoradas, mas como amigos e amigas também. E se a gente for pensar só nos namoros, você vai querer se modificar (se disfarçar) a cada novo relacionamento?
O que quero dizer é: você tem umas mil qualidades (deve ser esse mesmo o número) . E quando você as esconde porque alguém acha que são defeitos, outra pessoa vai sentir falta delas. Por que tentar ser outra pessoa e se transformar para agradar alguém que só está feliz se você for alguém que não é? Só vai te prejudicar, te cansar, e você não vai conseguir fingir para sempre. E o mundo ao teu redor será prejudicado porque você não vai deixar que ele conheça uma pessoa única, incrível, irada e fofinha (você é fofinha que eu seeeeeeeei) para mostrar para ele uma pessoa padronizada, que já existe, por quem ele já está esperando. E você vai estar tirando de si mesma a chance de conhecer alguém (ou alguéns) incrível, que você vai adorar e que te entenderá e aceitará. Pode crer que ela existe. Mas atrás da máscara ela nunca saberá que você (também) é azul!
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