No final das novelas, o que mais tem é casamento (ao longo da novela, casais passam por uma série de complicações até conseguirem ficar juntos). Até bem recentemente, todo filme da Disney terminava em “felizes para sempre” e essa felicidade eterna só começava quando a mocinha conseguia, enfim, casar com seu príncipe encantado. Em contrapartida, em filmes e séries (mesmo aqueles considerados mais ou menos feministas) vemos mulheres enlouquecidas para encontrar um namorado, enquanto as solteiras são dignas de pena, porque vão “ficar pra titia” e colecionar um monte de gatos. É raríssimo ver uma mulher na mídia que esteja solteira e esteja de boa com isso. E mais: é muito comum que mulheres na mídia sejam sempre referidas como “esposa de Fulano” – nem a Angelina Jolie, atriz premiada, autora, roteirista, filantropa, mãe de seis, linda e incrível, escapa de ser referida como “esposa de Brad Pitt”, mesmo já sendo isso tudo muito antes de se casar com o cara.
Esse tipo de coisa nos passa a ideia muito louca de que mulheres precisam ter um namorado e, portanto, só são felizes se têm um namorado. E, sim, um namorado, um homem, porque, nesses meios populares, ser lésbica também não conta.
Ora, não tem nada de errado em querer ter um namorado. O problema aqui está nessa crença muito louca de que é uma necessidade. Isso porque 1) pode nos fazer aceitar relacionamentos cocô só para não ficarmos sozinhas e, consequentemente, 2) nos faz achar que estar sem namorado é ser infeliz.
Por que ter namorado não significa ser feliz
Primeiro, porque depende do namorado, né? Não é arranjar um namorado qualquer e *BOOM* felicidade instantânea. Inclusive, começar um relacionamento nessa expectativa pode ser muito prejudicial, é dar responsabilidade demais a uma coisa só na sua vida.
Relacionamentos são construídos pelas pessoas se relacionando e, da mesma forma que você pode ter um namorado que te acompanha em tudo, você pode acabar tendo um que não suporta seu gosto por filmes europeus e se recusa a assisti-los com você. Igualmente, você pode ter um namorado que te respeita, te trata bem, te faz sentir amada ou você pode acabar tendo um namorado que te faz sentir mal em relação à sua aparência, que não te escuta, que não te apoia, que faz grosserias absurdas com você… Enfim, ter um relacionamento meia-boca, ruim ou até abusivo nunca é melhor do que ficar sozinha.
Acreditar que ter namorado é o mesmo que ser feliz significa aceitar qualquer tipo de relacionamento, achando que ter um relacionamento qualquer é melhor do que não ter nenhum. Vamos estabelecer uma coisa: se você mantém um relacionamento por pensar coisas como “pior sem ele”, está tudo errado. E se você procura um relacionamento apenas para não ficar sozinha, suas chances de se frustrar são muito maiores. Namoros deveriam começar quando as pessoas envolvidas sentem vontade de começar um namoro uma com a outra e não porque existe uma pressão social para que namoros comecem.
Outra coisa péssima é que se você acredita que sua felicidade depende de um relacionamento amoroso, se o relacionamento acaba, você pode ficar completamente perdida. Nosso bem-estar jamais deve depender de outra pessoa a não ser de nós mesmas. Sendo assim, nosso bem-estar não deve depender de nós termos ou não um relacionamento amoroso.
Como a Má disse aqui, “negar a dependência do amor não significa negar o amor!”, significa apenas que quando você escolhe se relacionar com alguém é porque você prefere se relacionar com essa pessoa e não porque você precisa daquilo para viver. Saber que você não precisa daquilo pra viver te deixa muito mais à vontade pra ser feliz sozinha. Então, vamos para o próximo tópico.
Por que estar solteira não significa ser infeliz
Troquei o uso de “sozinha” por “solteira”, porque acho muito curioso que quase sempre que alguém diz que “não quer ficar sozinho” está se referindo a um par romântico, esquecendo que tem família e amigos.
Não quero defender aqui que estar solteira é melhor do que estar namorando, porque depende do momento da vida, da pessoa, dos objetivos e mais um monte de fatores totalmente subjetivos e circunstanciais. Mas acho essencial colocar que antes de conseguirmos ser felizes em casal, precisamos aprender a sermos felizes sozinhas. Saber estar bem solteira é fundamental para entender que não precisamos de um relacionamento.
Pelas minhas vivências e conversas com outras pessoas, acho que a parte mais difícil desse tópico é justamente essa: sentir-se bem solteira. Muitas pessoas, quando estão em um relacionamento, não conseguem desgrudar da outra pessoa e a carregam (e insistem em serem carregadas) para tudo que é canto. Se ambos gostam disso, é claro, não há problema nenhum. Volto a frisar que o problema está na ilusão da necessidade e que talvez um bom exercício para se sentir bem solo seja sair sem a outra pessoa de vez em quando, mesmo namorando.
Para as solteiras, o melhor exercício é pensar nas vantagens de não depender do humor, das vontades, das necessidades, dos poréns e tudo mais de outra pessoa para tomar decisões sobre o que fazer, o que assistir, para onde ir etc. Se você não tem ideia do que fazer no seu tempo sozinha, já demos algumas dicas aqui na Capitolina. O lance é ir se descobrindo mesmo. Se você não está acostumada a passar muito tempo sozinha, o começo pode ser esquisito e difícil, mas vai melhorando, e a descoberta é maravilhosa, especialmente para a autoestima. E, quando a gente se gosta, ficar sozinha ou solteira não é um fardo – pelo contrário, é agradável.
Uma das ideias sobre amor mais presentes na sociedade é essa coisa de que pessoas são metades que se encontram e formam um só. Não, minha gente. Pessoas são seres inteiros e, como tal, podem unir-se umas às outras, formando pares que se amam, se respeitam, se acompanham. A ideia de que andamos por aí incompletos precisando de outra metade só nos traz angústia enquanto não encontramos ninguém e frustração quando encontramos alguém e percebemos que todas as respostas da existência não estavam contidas naquela pessoa. É aí que percebemos, enfim, que ter um namorado não é sinônimo de ser feliz. Mesmo que o relacionamento seja maravilhoso, ele é só parte da sua vida, não a sua vida inteira. Inteira é só você e nada é mais feliz do que isso.
Usa seu vício em séries e Facebook como inspiração para os textos, para a vida e para puxar assunto com os outros. Adora ouvir histórias e conversar sobre gênero, sexualidade, amor e relações amorosas – gosta tanto desses temas que deu até um jeito de fazer mestrado nisso. É professora de inglês, cantora e pianista amadora de YouTube, fala muito, ri de tudo e escreve porque precisa. Ama: pessoas e queijo. Detesta: que gritem.
Pingback: O medo de amar é o medo de ser livre | Capitolina()
Pingback: “Então, quem quer namorar a gorda?” – Frente Feminista de Porto Velho()