Sabe quando você estuda muito pra uma prova e consegue tirar uma nota boa, além das suas expectativas? Ou quando se acha incapaz de cozinhar, mas aí vai lá, tenta aquela receita de coxinha vegana das migas e fica super bom? Se acha péssima nessas coisas que exigem habilidades manuais, mas consegue fazer seu próprio porta-treco? E quando você passa pro curso que você queria no Enem? Todos esses exemplos são conquistas. Algumas nos dão mais trabalho ou têm mais significado pessoal, mas todas elas são, igualmente, conquistas. E devem ser valorizadas como tal.
Muitas vezes, não reconhecemos nossa própria força. E, especialmente enquanto mulheres, somos ensinadas desde cedo a não nos acharmos grande coisa. Passou de ano direto? Não fez mais do que obrigação. Passou em segundo lugar no concurso? Podia ter sido o primeiro, né. Ganhou o intercolegial? Seu irmão também. Fez feijão sozinha pela primeira vez? Ah, e daí, quanta gente faz feijão todo dia e não ganha prêmio nenhum por isso. E por aí vai.
Esses pequenos comentários nos fazem internalizar que nunca somos boas o bastante. Sempre dava pra ter sido melhor, nada nunca está bom. O problema disso é que acaba atacando horrores nossa autoestima e motivação para fazer as coisas. Aprendemos que, já que nunca é o suficiente, não somos o suficiente e, por isso, qual é o sentido de fazer as coisas? “Ah, deixa pra lá.” E assim nos educamos a ficar quietinhas no nosso canto, seja deixando de tentar (afinal, pra quê, né?) ou deixando de reconhecer quando somos boas em algo. Chega disso!
Não se trata de sair por aí ostentando ou tentando despertar inveja nas outras pessoas, mas de reconhecer o seu próprio valor. Parar e pensar: caramba, que legal que eu consegui fazer isso! E se permitir um momento de comemoração – mesmo que as pessoas em volta não reconheçam ou que a conquista em questão seja significativa só pra você.
Isso também tem a ver com ter uma visão mais positiva sobre as coisas que fazemos. Euzinha, por exemplo, terminei o mestrado com oito meses de atraso, porque surtei no processo, e me condenei muito por isso. Do tipo: ah, levei tanto tempo pra terminar que nem conta, né. Mas CONTA SIM. Percebi conversando com outras pessoas que terminar um mestrado é mega difícil e eu tenho que ficar feliz por mim mesma sim por ter conseguido. Não foi da maneira ideal? De forma alguma. Mas o que nessa vida acontece de maneira ideal? É muito mais produtivo enxergar essa conclusão do mestrado como uma conquista do que ficar focando no negativo, que foi o tempo que levei para alcançá-la.
Da mesma maneira, nós também devemos valorizar nossas conquistas que costumam ser vistas como menores. Você sempre tira 2,0 em matemática e nesse bimestre conseguiu tirar 5,0? Parabéns! Sério. Uma pessoa que tira sempre 2,0 em uma matéria tem dificuldade nela e é muito improvável que consiga pular de um 2,0 pra um 10. Sendo assim, conseguir tirar 5,0 é uma conquista e valorizar isso como tal é o que dá motivação para continuar estudando e tentando e conseguir chegar ao 10. Desconsiderar o 5,0 só porque ainda não é uma nota alta não motiva e não encoraja, só desanima.
Dê-se valor. Pare de categorizar tudo que você faz como “nada de mais”. Aprenda a ouvir elogios. Quando lançamos o livro da Capitolina, recebi vários parabéns por ser autora publicada e eu sempre respondia: “Ah, mas é só UM texto em um livro, não é exatamente o meu livro.” Que comentário desnecessário! Estou me treinando a apenas agradecer. Proponho a vocês, leitoras, que treinem também. Pratiquem esse autorreconhecimento, desde as pequenas coisas. Tira um tempinho do seu dia pra listar o que você fez de bom. Dê-se algo de presente. Olhe pra Beyoncé. Fique feliz por você mesma. Você é incrível.
Usa seu vício em séries e Facebook como inspiração para os textos, para a vida e para puxar assunto com os outros. Adora ouvir histórias e conversar sobre gênero, sexualidade, amor e relações amorosas – gosta tanto desses temas que deu até um jeito de fazer mestrado nisso. É professora de inglês, cantora e pianista amadora de YouTube, fala muito, ri de tudo e escreve porque precisa. Ama: pessoas e queijo. Detesta: que gritem.